Data centers no espaço

28 Maio, 2025


A procura acelerada de processamento e armazenamento de dados está a levar as empresas a explorar soluções inovadoras que, até há pouco tempo, pareciam ser conteúdos de ficção científica.

Entre as mais revolucionárias está a criação de centros de dados no espaço, um conceito que promete revolucionar a forma como gerimos a informação no futuro.

À medida que as restrições de espaço, eficiência energética e segurança na Terra se tornam mais prementes, as empresas e os governos começam a olhar para as estrelas como a próxima grande fronteira da infraestrutura digital.


Uma constelação de centros de dados em órbita

Entre os pioneiros desta nova era está a Starcloud, uma startup que angariou 2,4 milhões de dólares para lançar uma constelação de centros de dados de baixa órbita. O seu ambicioso plano prevê a colocação em órbita de cerca de 300 satélites, e cujo primeiro satélite, com 60 kg, está programado para ser lançado em julho de 2025 a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9, como parte da missão Bandwagon 4.

Estes satélites estão equipados com GPUs avançadas para processar dados diretamente no espaço, eliminando a necessidade de enviar grandes volumes de dados para a Terra.

Esta inovação não só reduz os custos operacionais, como também minimiza a latência, proporcionando um serviço mais eficiente para várias operações espaciais, como a observação da Terra ou missões de exploração.

Para o desenvolvimento destes satélites, a Starcloud colabora com empresas como a Ansys e a Solidworks, que fornecem ferramentas para a conceção e simulação dos sistemas de satélites, e também com a SpaceX para os lançamentos.

 

Data centers na Lua

Uma proposta ainda mais arrojada vem da Lonestar Data Holdings, que está a explorar a possibilidade de estabelecer centros de dados na Lua e que alcançou um marco histórico ao operar com sucesso o seu centro de dados "Freedom" durante a viagem para a Lua e na órbita lunar.

O centro de dados, lançado em 26 de fevereiro de 2025 a bordo do módulo de aterragem Athena da Intuitive Machines, completou testes críticos de operação comercial em espaço cislunar, demonstrando a viabilidade e resiliência da sua tecnologia.

O "Freedom" é alimentado por energia solar e utiliza unidades de estado sólido refrigeradas naturalmente, oferecendo uma solução sustentável e ambientalmente respeitosa para armazenamento de dados críticos.
Com as crescentes preocupações sobre desastres naturais, ciberataques e outros riscos inerentes à Terra, a lua está a emergir como um ambiente estável e seguro para armazenar dados críticos.

Os planos da Lonestar incluem a instalação dos primeiros dispositivos este ano, com o objetivo de expandir a capacidade para 100 petabytes em missões futuras.

Esta abordagem não só fornece uma cópia de segurança para os dados mais sensíveis, como também estabelece um novo padrão para a resiliência digital a nível global.

 

Outros projectos de data centers no espaço

A OrbitsEdge está a desenvolver uma infraestrutura de computação espacial centrada no processamento distribuído de dados. O seu sistema patenteado Edge10™ inclui blindagem contra radiações e gestão térmica avançada para proteger o hardware de elevado desempenho no espaço.

Esta abordagem permite que os microcentros de dados em órbita baixa realizem tarefas de processamento intensivo utilizando inteligência artificial, reduzindo os custos e ultrapassando os desafios do ambiente espacial.

O projeto ASCEND, liderado pela Thales Alenia Space, representa outra iniciativa fundamental para o desenvolvimento de centros de dados espaciais como uma solução ecológica e tecnologicamente viável. Com o apoio de gigantes industriais como a Airbus e o ArianeGroup, o ASCEND visa reduzir as emissões de CO₂ e a utilização de água, dois recursos críticos num mundo cada vez mais afetado pela escassez.

As tecnologias utilizadas incluem sistemas de energia de baixas emissões desenvolvidos em colaboração com o ArianeGroup e plataformas de computação em nuvem optimizadas para operar em ambientes espaciais, integrando hardware de alto desempenho de empresas como a Hewlett Packard Enterprise.

Este projeto europeu visa não só reduzir as emissões, mas também minimizar a utilização de água para arrefecimento, um recurso cada vez mais escasso na Terra.


Casos de utilização de centros de dados no espaço

Os casos de utilização dos centros de dados espaciais são tão variados quanto prometedores. Para as empresas de observação da Terra, como as que operam satélites de imagem e sensores, estes centros de dados permitem o processamento em tempo real da informação diretamente em órbita.

Isto não só acelera os tempos de resposta, como também evita a necessidade de descarregar grandes volumes de dados para a Terra.

Em sectores como a defesa e a segurança, estes centros podem analisar informações críticas isoladas das ciberameaças terrestres, proporcionando uma camada adicional de segurança. Além disso, existem aplicações potenciais na extração de dados espaciais e no processamento de informações científicas em missões de exploração do espaço profundo.

O funcionamento dos centros de dados no espaço oferece vantagens como a eficiência energética, a segurança e a resiliência. Estando no espaço, estes centros podem tirar partido da energia solar contínua e das baixas temperaturas de vácuo, reduzindo drasticamente os custos de refrigeração.

Estão também protegidos contra desastres naturais e ciberataques que afectam os centros de dados terrestres, proporcionando um ambiente mais seguro para informações sensíveis. A escalabilidade é outro ponto forte, uma vez que os limites de espaço e recursos na Terra não se aplicam no espaço, permitindo uma expansão praticamente ilimitada das capacidades de armazenamento e processamento.

Além disso, a pegada de carbono é significativamente reduzida, uma vez que não é necessária água para o arrefecimento e o funcionamento é muito mais limpo e sustentável.

No entanto, estes desenvolvimentos também trazem desafios. O custo inicial do lançamento e da instalação de equipamento no espaço continua a ser elevado, representando um grande investimento para as empresas que pretendem entrar neste mercado emergente.

Apesar da capacidade de processar dados no espaço, a comunicação com a Terra pode ser afetada pela latência, limitando a sua utilização para aplicações que exijam respostas em tempo real. Além disso, a manutenção e a reparação de equipamento no espaço são complexas e dispendiosas, exigindo frequentemente missões especiais ou tecnologia robótica avançada para as resolver.

À medida que mais entidades do sector privado aderem a esta tecnologia, o espaço está a emergir como a próxima grande fronteira da infraestrutura digital. A criação de centros de dados fora da Terra representa um passo crucial para um futuro mais seguro e sustentável na gestão de dados.

A visão é clara: desenvolver uma rede de centros de dados baseados no espaço que não só complementem, como potencialmente ultrapassem os seus equivalentes terrestres. Num mundo em que a informação é poder, a deslocação dos nossos dados para o espaço não é apenas uma inovação tecnológica, mas uma necessidade emergente na procura de um futuro mais resiliente e protegido face aos desafios terrestres.

 

Artigo original de Miguel Cañadas publicado aqui

A procura acelerada de processamento e armazenamento de dados está a levar as empresas a explorar soluções inovadoras que, até há pouco tempo, pareciam ser conteúdos de ficção científica.

Entre as mais revolucionárias está a criação de centros de dados no espaço, um conceito que promete revolucionar a forma como gerimos a informação no futuro.

À medida que as restrições de espaço, eficiência energética e segurança na Terra se tornam mais prementes, as empresas e os governos começam a olhar para as estrelas como a próxima grande fronteira da infraestrutura digital.


Uma constelação de centros de dados em órbita

Entre os pioneiros desta nova era está a Starcloud, uma startup que angariou 2,4 milhões de dólares para lançar uma constelação de centros de dados de baixa órbita. O seu ambicioso plano prevê a colocação em órbita de cerca de 300 satélites, e cujo primeiro satélite, com 60 kg, está programado para ser lançado em julho de 2025 a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9, como parte da missão Bandwagon 4.

Estes satélites estão equipados com GPUs avançadas para processar dados diretamente no espaço, eliminando a necessidade de enviar grandes volumes de dados para a Terra.

Esta inovação não só reduz os custos operacionais, como também minimiza a latência, proporcionando um serviço mais eficiente para várias operações espaciais, como a observação da Terra ou missões de exploração.

Para o desenvolvimento destes satélites, a Starcloud colabora com empresas como a Ansys e a Solidworks, que fornecem ferramentas para a conceção e simulação dos sistemas de satélites, e também com a SpaceX para os lançamentos.

 

Data centers na Lua

Uma proposta ainda mais arrojada vem da Lonestar Data Holdings, que está a explorar a possibilidade de estabelecer centros de dados na Lua e que alcançou um marco histórico ao operar com sucesso o seu centro de dados "Freedom" durante a viagem para a Lua e na órbita lunar.

O centro de dados, lançado em 26 de fevereiro de 2025 a bordo do módulo de aterragem Athena da Intuitive Machines, completou testes críticos de operação comercial em espaço cislunar, demonstrando a viabilidade e resiliência da sua tecnologia.

O "Freedom" é alimentado por energia solar e utiliza unidades de estado sólido refrigeradas naturalmente, oferecendo uma solução sustentável e ambientalmente respeitosa para armazenamento de dados críticos.
Com as crescentes preocupações sobre desastres naturais, ciberataques e outros riscos inerentes à Terra, a lua está a emergir como um ambiente estável e seguro para armazenar dados críticos.

Os planos da Lonestar incluem a instalação dos primeiros dispositivos este ano, com o objetivo de expandir a capacidade para 100 petabytes em missões futuras.

Esta abordagem não só fornece uma cópia de segurança para os dados mais sensíveis, como também estabelece um novo padrão para a resiliência digital a nível global.

 

Outros projectos de data centers no espaço

A OrbitsEdge está a desenvolver uma infraestrutura de computação espacial centrada no processamento distribuído de dados. O seu sistema patenteado Edge10™ inclui blindagem contra radiações e gestão térmica avançada para proteger o hardware de elevado desempenho no espaço.

Esta abordagem permite que os microcentros de dados em órbita baixa realizem tarefas de processamento intensivo utilizando inteligência artificial, reduzindo os custos e ultrapassando os desafios do ambiente espacial.

O projeto ASCEND, liderado pela Thales Alenia Space, representa outra iniciativa fundamental para o desenvolvimento de centros de dados espaciais como uma solução ecológica e tecnologicamente viável. Com o apoio de gigantes industriais como a Airbus e o ArianeGroup, o ASCEND visa reduzir as emissões de CO₂ e a utilização de água, dois recursos críticos num mundo cada vez mais afetado pela escassez.

As tecnologias utilizadas incluem sistemas de energia de baixas emissões desenvolvidos em colaboração com o ArianeGroup e plataformas de computação em nuvem optimizadas para operar em ambientes espaciais, integrando hardware de alto desempenho de empresas como a Hewlett Packard Enterprise.

Este projeto europeu visa não só reduzir as emissões, mas também minimizar a utilização de água para arrefecimento, um recurso cada vez mais escasso na Terra.


Casos de utilização de centros de dados no espaço

Os casos de utilização dos centros de dados espaciais são tão variados quanto prometedores. Para as empresas de observação da Terra, como as que operam satélites de imagem e sensores, estes centros de dados permitem o processamento em tempo real da informação diretamente em órbita.

Isto não só acelera os tempos de resposta, como também evita a necessidade de descarregar grandes volumes de dados para a Terra.

Em sectores como a defesa e a segurança, estes centros podem analisar informações críticas isoladas das ciberameaças terrestres, proporcionando uma camada adicional de segurança. Além disso, existem aplicações potenciais na extração de dados espaciais e no processamento de informações científicas em missões de exploração do espaço profundo.

O funcionamento dos centros de dados no espaço oferece vantagens como a eficiência energética, a segurança e a resiliência. Estando no espaço, estes centros podem tirar partido da energia solar contínua e das baixas temperaturas de vácuo, reduzindo drasticamente os custos de refrigeração.

Estão também protegidos contra desastres naturais e ciberataques que afectam os centros de dados terrestres, proporcionando um ambiente mais seguro para informações sensíveis. A escalabilidade é outro ponto forte, uma vez que os limites de espaço e recursos na Terra não se aplicam no espaço, permitindo uma expansão praticamente ilimitada das capacidades de armazenamento e processamento.

Além disso, a pegada de carbono é significativamente reduzida, uma vez que não é necessária água para o arrefecimento e o funcionamento é muito mais limpo e sustentável.

No entanto, estes desenvolvimentos também trazem desafios. O custo inicial do lançamento e da instalação de equipamento no espaço continua a ser elevado, representando um grande investimento para as empresas que pretendem entrar neste mercado emergente.

Apesar da capacidade de processar dados no espaço, a comunicação com a Terra pode ser afetada pela latência, limitando a sua utilização para aplicações que exijam respostas em tempo real. Além disso, a manutenção e a reparação de equipamento no espaço são complexas e dispendiosas, exigindo frequentemente missões especiais ou tecnologia robótica avançada para as resolver.

À medida que mais entidades do sector privado aderem a esta tecnologia, o espaço está a emergir como a próxima grande fronteira da infraestrutura digital. A criação de centros de dados fora da Terra representa um passo crucial para um futuro mais seguro e sustentável na gestão de dados.

A visão é clara: desenvolver uma rede de centros de dados baseados no espaço que não só complementem, como potencialmente ultrapassem os seus equivalentes terrestres. Num mundo em que a informação é poder, a deslocação dos nossos dados para o espaço não é apenas uma inovação tecnológica, mas uma necessidade emergente na procura de um futuro mais resiliente e protegido face aos desafios terrestres.

 

Artigo original de Miguel Cañadas publicado aqui